APOCALIPSE - COLETIVO E INDIVIDUAL: REALIDADE E CINEMA
Os líderes religiosos, de um modo geral, utilizam as dúvidas quanto ao futuro como estratégias de dominação quando afirmam que sabem exatamente o acontecerá. O milenarismo poder ser compreendido neste contexto.
As profecias, no entanto, não se limitam às religiões, como aquelas feitas por Nostradamus e aquelas associadas aos Maias.
O fato é que, em qualquer caso, existe um incômodo do ser humano em relação ao futuro.
Daí, talvez, venha a necessidade de estabelecer uma data, um marco, um ponto final na trajetória da humanidade.
Essa questão está associada, obviamente, aquilo que é uma certeza para todo indivíduo: a morte. Ao invés de pensar no próprio fim individualmente, talvez fosse mais interessante imaginar o fim coletivo da espécie.
O tema é recorrente na produção cinematográfica. No filme “Impacto Profundo” (1998), quando o presidente dos Estados Unidos anuncia uma loteria que deveria escolher os que iriam viver (em cavernas subterrâneas) e os que iriam morrer porque um cometa de mais de 7 quilômetros iria colidir com a terra (isso poderia significar o fim da humanidade). No seu discurso, o presidente faz uma ressalva importante:
“(...) os homens e as outras mulheres (da população em geral) com mais de 50 anos não serão incluídos na loteria.” No original: “(…) no men and women over 50 in the general population will be included in the lottery.”*
Diante de uma situação apocalíptica e da necessidade de dar continuidade à espécie, parece um critério razoável. A questão, porém, é que não é preciso um clima desses para excluir quem tem mais de 50 anos.
Em outras palavras, chega um momento na vida de qualquer pessoa que ela percebe que não está viva nem morta. Ela torna-se invisível. Evita incomodar o outro. Jamais “aborda” alguém em público, seja em uma “cantada” ou para o início de uma simples conversa. Ela sabe que precisa do convite (reconhecimento) do outro para ganhar visibilidade.
Claro que pode existir um caso (ou outro) que não aceite tais regras e se esforce bastante – cirurgia plástica, anabolizante, botox, entre outras estratégias – para parecer “visível” aos olhos do outro. Isso significa parecer algo que ele não é mais: um indivíduo de 20 anos. Veja de perto uma foto do Mick Jagger aos 70 anos e a compare com uma que o cantor tinha aos 20. Ele tornou-se uma cópia de si mesmo. Tornou-se um simulacro. Tornou-se um zumbi do que era aos 20 anos.
Se isso acontece com um sujeito famoso e milionário como Mick Jagger, imagine esse processo aplicado ao cidadão comum. Existem, por toda parte, zumbis querendo parecer ter 20 anos.
Trata-se do direito de escolha de cada um. Tal processo não é problemático em si, desde que o indivíduo tenha senso de humor, autocrítica e não queira acreditar, de fato, na fantasia que criou, ou seja, que ele pareceria realmente ter 20 anos, que ele teria “enganado o tempo” e teria sido, por algum milagre, “congelado” aos 20 anos. “Congelado”, ironicamente, significa o estado do corpo de alguém que acabou de morrer.
É necessário reconhecer que tratar do tema do fim – seja coletivo ou individual – parece não agradar aos indivíduos. É uma pena, afinal, atrapalha o “viver bem” quando alguém lida mal com a velhice e tem um medo excessivo da morte.
(*) Deep Impact Movie Script (1998). Springfield! Springfield! http://www.springfieldspringfield.co.uk/movie_script.php?movie=deep-impact
Os líderes religiosos, de um modo geral, utilizam as dúvidas quanto ao futuro como estratégias de dominação quando afirmam que sabem exatamente o acontecerá. O milenarismo poder ser compreendido neste contexto.
As profecias, no entanto, não se limitam às religiões, como aquelas feitas por Nostradamus e aquelas associadas aos Maias.
O fato é que, em qualquer caso, existe um incômodo do ser humano em relação ao futuro.
Daí, talvez, venha a necessidade de estabelecer uma data, um marco, um ponto final na trajetória da humanidade.
Essa questão está associada, obviamente, aquilo que é uma certeza para todo indivíduo: a morte. Ao invés de pensar no próprio fim individualmente, talvez fosse mais interessante imaginar o fim coletivo da espécie.
O tema é recorrente na produção cinematográfica. No filme “Impacto Profundo” (1998), quando o presidente dos Estados Unidos anuncia uma loteria que deveria escolher os que iriam viver (em cavernas subterrâneas) e os que iriam morrer porque um cometa de mais de 7 quilômetros iria colidir com a terra (isso poderia significar o fim da humanidade). No seu discurso, o presidente faz uma ressalva importante:
“(...) os homens e as outras mulheres (da população em geral) com mais de 50 anos não serão incluídos na loteria.” No original: “(…) no men and women over 50 in the general population will be included in the lottery.”*
Diante de uma situação apocalíptica e da necessidade de dar continuidade à espécie, parece um critério razoável. A questão, porém, é que não é preciso um clima desses para excluir quem tem mais de 50 anos.
Em outras palavras, chega um momento na vida de qualquer pessoa que ela percebe que não está viva nem morta. Ela torna-se invisível. Evita incomodar o outro. Jamais “aborda” alguém em público, seja em uma “cantada” ou para o início de uma simples conversa. Ela sabe que precisa do convite (reconhecimento) do outro para ganhar visibilidade.
Claro que pode existir um caso (ou outro) que não aceite tais regras e se esforce bastante – cirurgia plástica, anabolizante, botox, entre outras estratégias – para parecer “visível” aos olhos do outro. Isso significa parecer algo que ele não é mais: um indivíduo de 20 anos. Veja de perto uma foto do Mick Jagger aos 70 anos e a compare com uma que o cantor tinha aos 20. Ele tornou-se uma cópia de si mesmo. Tornou-se um simulacro. Tornou-se um zumbi do que era aos 20 anos.
Se isso acontece com um sujeito famoso e milionário como Mick Jagger, imagine esse processo aplicado ao cidadão comum. Existem, por toda parte, zumbis querendo parecer ter 20 anos.
Trata-se do direito de escolha de cada um. Tal processo não é problemático em si, desde que o indivíduo tenha senso de humor, autocrítica e não queira acreditar, de fato, na fantasia que criou, ou seja, que ele pareceria realmente ter 20 anos, que ele teria “enganado o tempo” e teria sido, por algum milagre, “congelado” aos 20 anos. “Congelado”, ironicamente, significa o estado do corpo de alguém que acabou de morrer.
É necessário reconhecer que tratar do tema do fim – seja coletivo ou individual – parece não agradar aos indivíduos. É uma pena, afinal, atrapalha o “viver bem” quando alguém lida mal com a velhice e tem um medo excessivo da morte.
(*) Deep Impact Movie Script (1998). Springfield! Springfield! http://www.springfieldspringfield.co.uk/movie_script.php?movie=deep-impact