PROTESTOS LOCAIS E REPRESSÃO GLOBAL
As manifestações nas ruas brasileiras em junho de 2013, para surpresa dos próprios governantes, revelaram algumas novidades: pareciam ser espontâneas, sem uma grande liderança; a rejeição dos políticos profissionais e seus partidos e o uso da violência por uma minoria que ficou conhecida como o grupo dos “Black Blocs”.
O mundo mudou. No entanto, a maneira de lidar com os movimentos sociais, por parte dos representantes do Estado, continuou a mesma: a repressão violenta da polícia. Atualmente (fevereiro de 2014), isso acontece principalmente em países como a Venezuela, a Tailândia e a Ucrânia.
Contudo, o melhor exemplo de insatisfação com o que existe na realidade atual seria o caso da Bósnia:
"E agora, novamente, Sarajevo e na Bósnia estão segurando um ESPELHO para a EUROPA, para seu PRESENTE e ao seu FUTURO. Cidades bósnias se assemelham a Londres no verão de 2011 e aos subúrbios de Paris em 2005: uma explosão de raiva e destruição ANÁRQUICA de todos os símbolos do poder político, econômico e social."
O uso da palavra “anárquica” revela a rejeição de qualquer forma de autoridade (principalmente daqueles que estão no Estado). Existem várias facções no anarquismo, algumas acreditam que o uso da violência seria legítimo (é o que acontece no Brasil com os “Black Blocs”).
A maioria, aqui no país, rejeita a violência como forma de protesto e se opõe a participação dos “Black Blocs” ou dos partidos políticos ou de movimentos sociais organizados (como o MST). Essa maioria é composta por cidadãos comuns que estão insatisfeitos com o que é apresentado para eles no dia a dia. Aqui, a Bósnia aparece novamente como exemplo:
"Estamos falando de pessoas comuns que estão desesperadas e com raiva, mas, ao mesmo tempo, determinadas a lutar por uma vida melhor, apesar de todos os obstáculos institucionais. Elas não estão apenas gritando palavras de ordem sobre como deveria ser a democracia, mas estão questionando a própria prática da democracia."
É importante ressaltar que questionar a “prática da democracia” não significa necessariamente rejeitar a democracia. Os problemas são agravados com ”os obstáculos institucionais” e com o mal uso da democracia feito pelos políticos profissionais. Isso não acontece por acaso. O Estado aparece para escamotear interesses reais de uma elite que, cada vez mais, acumula bens materiais a partir da exploração da população em geral. Bósnia:
"A Bósnia é uma IMAGEM DO FUTURO da Europa: populações ingovernáveis, exaustas pelas medidas de austeridade e deixadas à própria sorte, após o colapso (...) do Estado de bem-estar - um estado sem nenhuma perspectiva para o crescimento, dirigido por ELITES 'questionáveis', SEM qualquer LEGITIMIDADE no sentido de colocar POLICIAIS fortemente armados para as protegerem CONTRA os CIDADÃOS COMUNS."
É um erro grave a utilização da repressão policial contra cidadãos comuns (no sentido de atender os interesses de uma elite). Não tem dado certo, por parte dos governantes, associar os cidadãos comuns insatisfeitos aos criminosos ou traidores da pátria. Mais uma vez, os representantes do Estado subestimam a inteligência das pessoas ao utilizar técnicas de repressão do século XIX no mundo atual, diferente e globalizado.
Igor Štiks, do The Guardian, encerra o seu texto apontando o risco geral e global que as lideranças assumem ao não ouvir ou tentar efetivamente compreender o recado que vem das ruas:
“A Bósnia mostra cenários de instabilidade em outras cidades européias, mas também revela uma saída com a luta de seus cidadãos pela justiça social, pela igualdade e pela democracia. Na verdade, a Bósnia oferece uma imagem do que a Europa deve tornar-se caso fique sonâmbula novamente diante de um desastre como o fez há um século, quando o assassinato de Franz Ferdinand em Sarajevo marcou o início da primeira guerra mundial.”
Os resultados de uma realidade neoliberal e global estão aí, aqui e agora. É ingenuidade acreditar que os protestos são fenômenos isolados e específicos de cada país (existem particularidades de cada lugar, mas a base é o modelo de discriminação e exploração imposto pelo capitalismo).
Especificamente quanto ao Brasil, é um equívoco usar os protestos na briga pelo poder (PT e PSDB) ou ainda optar por práticas e alternativas totalitárias. A população brasileira viveu 21 anos sob uma ditadura militar e não existe saudosismo algum no que diz respeito à censura, prisões ilegais, torturas e interferência direta do Executivo nos poderes Legislativo e Judiciário.
Quanto ao caso da Bósnia, ela não é um exemplo só para a Europa ou para o Brasil. Ela pode ser o retrato de um futuro próximo da humanidade.
(*) Todas as citações são do artigo de Igor Štiks. The Guardian, 17 February 2014. http://www.theguardian.com/commentisfree/2014/feb/17/bosnia-terrifying-picture-of-europe-future?CMP=fb_gu
As manifestações nas ruas brasileiras em junho de 2013, para surpresa dos próprios governantes, revelaram algumas novidades: pareciam ser espontâneas, sem uma grande liderança; a rejeição dos políticos profissionais e seus partidos e o uso da violência por uma minoria que ficou conhecida como o grupo dos “Black Blocs”.
O mundo mudou. No entanto, a maneira de lidar com os movimentos sociais, por parte dos representantes do Estado, continuou a mesma: a repressão violenta da polícia. Atualmente (fevereiro de 2014), isso acontece principalmente em países como a Venezuela, a Tailândia e a Ucrânia.
Contudo, o melhor exemplo de insatisfação com o que existe na realidade atual seria o caso da Bósnia:
"E agora, novamente, Sarajevo e na Bósnia estão segurando um ESPELHO para a EUROPA, para seu PRESENTE e ao seu FUTURO. Cidades bósnias se assemelham a Londres no verão de 2011 e aos subúrbios de Paris em 2005: uma explosão de raiva e destruição ANÁRQUICA de todos os símbolos do poder político, econômico e social."
O uso da palavra “anárquica” revela a rejeição de qualquer forma de autoridade (principalmente daqueles que estão no Estado). Existem várias facções no anarquismo, algumas acreditam que o uso da violência seria legítimo (é o que acontece no Brasil com os “Black Blocs”).
A maioria, aqui no país, rejeita a violência como forma de protesto e se opõe a participação dos “Black Blocs” ou dos partidos políticos ou de movimentos sociais organizados (como o MST). Essa maioria é composta por cidadãos comuns que estão insatisfeitos com o que é apresentado para eles no dia a dia. Aqui, a Bósnia aparece novamente como exemplo:
"Estamos falando de pessoas comuns que estão desesperadas e com raiva, mas, ao mesmo tempo, determinadas a lutar por uma vida melhor, apesar de todos os obstáculos institucionais. Elas não estão apenas gritando palavras de ordem sobre como deveria ser a democracia, mas estão questionando a própria prática da democracia."
É importante ressaltar que questionar a “prática da democracia” não significa necessariamente rejeitar a democracia. Os problemas são agravados com ”os obstáculos institucionais” e com o mal uso da democracia feito pelos políticos profissionais. Isso não acontece por acaso. O Estado aparece para escamotear interesses reais de uma elite que, cada vez mais, acumula bens materiais a partir da exploração da população em geral. Bósnia:
"A Bósnia é uma IMAGEM DO FUTURO da Europa: populações ingovernáveis, exaustas pelas medidas de austeridade e deixadas à própria sorte, após o colapso (...) do Estado de bem-estar - um estado sem nenhuma perspectiva para o crescimento, dirigido por ELITES 'questionáveis', SEM qualquer LEGITIMIDADE no sentido de colocar POLICIAIS fortemente armados para as protegerem CONTRA os CIDADÃOS COMUNS."
É um erro grave a utilização da repressão policial contra cidadãos comuns (no sentido de atender os interesses de uma elite). Não tem dado certo, por parte dos governantes, associar os cidadãos comuns insatisfeitos aos criminosos ou traidores da pátria. Mais uma vez, os representantes do Estado subestimam a inteligência das pessoas ao utilizar técnicas de repressão do século XIX no mundo atual, diferente e globalizado.
Igor Štiks, do The Guardian, encerra o seu texto apontando o risco geral e global que as lideranças assumem ao não ouvir ou tentar efetivamente compreender o recado que vem das ruas:
“A Bósnia mostra cenários de instabilidade em outras cidades européias, mas também revela uma saída com a luta de seus cidadãos pela justiça social, pela igualdade e pela democracia. Na verdade, a Bósnia oferece uma imagem do que a Europa deve tornar-se caso fique sonâmbula novamente diante de um desastre como o fez há um século, quando o assassinato de Franz Ferdinand em Sarajevo marcou o início da primeira guerra mundial.”
Os resultados de uma realidade neoliberal e global estão aí, aqui e agora. É ingenuidade acreditar que os protestos são fenômenos isolados e específicos de cada país (existem particularidades de cada lugar, mas a base é o modelo de discriminação e exploração imposto pelo capitalismo).
Especificamente quanto ao Brasil, é um equívoco usar os protestos na briga pelo poder (PT e PSDB) ou ainda optar por práticas e alternativas totalitárias. A população brasileira viveu 21 anos sob uma ditadura militar e não existe saudosismo algum no que diz respeito à censura, prisões ilegais, torturas e interferência direta do Executivo nos poderes Legislativo e Judiciário.
Quanto ao caso da Bósnia, ela não é um exemplo só para a Europa ou para o Brasil. Ela pode ser o retrato de um futuro próximo da humanidade.
(*) Todas as citações são do artigo de Igor Štiks. The Guardian, 17 February 2014. http://www.theguardian.com/commentisfree/2014/feb/17/bosnia-terrifying-picture-of-europe-future?CMP=fb_gu