BARBÁRIE E CAPITALISMO: O ELOGIO AO TRABALHADOR NUM MUNDO SEM EMPREGO
Na Grécia Antiga, havia o elogio ao ócio. O conceito de democracia foi criado neste contexto.
A soberba pode ser definida como “sobreposição de algo que se encontra em lugar inferior; elevação.”** Trata-se, basicamente, do ponto de vista social, daquele tipo de orgulho que faz o indivíduo acreditar que ele seria superior aos outros.
“Na Idade Média, o grande pecado, radix malorum omnium,* foi a soberba.” (Foucault, História da loucura, p. 72)
No século XVII, a preguiça assumira o lugar da soberba.
Numa sociedade burguesa e no seu modo de produção, o maior crime seria o ócio. É inventado, com objetivos econômicos associados à exploração da maioria, o elogio do trabalho. Ser trabalhador significaria ser correto tanto para o capitalismo como para uma leitura do cristianismo.
Neste contexto, o louco “atravessa por conta própria as fronteiras da ordem burguesa, alienando-se fora dos limites sacros de sua ética.” (História da loucura, p. 73) O louco passa, assim, a ser visto como um marginal, que precisaria ser excluído do convívio social através da internação.
Nem sempre o louco foi tratado desta maneira:
“Até a Renascença, a sensibilidade à loucura estava ligada à presença de transcendências imaginárias. A partir da era clássica e pela primeira vez, a loucura é percebida como uma condenação ética da ociosidade e numa imanência social garantida pela comunidade do trabalho.” (História da loucura, p. 73)
Esse mundo industrial do excesso do trabalho manual fez sentido para a burguesia até o século XIX. Com a última revolução tecnológica, a invenção do computador pessoal e da internet, a robotização da produção e a demissão em massa de operários, a ideologia do trabalho passou a ser problematizada.
Não existem empregos para todos. As profissões desaparecem na medida em que o computador ocupa o lugar do trabalhador na produção.
O que fazer com uma massa cada vez maior de pessoas sem trabalho?
A resposta certamente não seria voltar ao século XV quando era utilizada uma “legislação sanguinária contra a vadiagem.” (Marx, O Capital, Livro 1, Volume 2, p. 851) Um exemplo deste tipo de lei pode ser dado em 1572 na Inglaterra:
“Mendigos sem licença e com mais de 14 anos serão flagelados severamente e terão suas orelhas marcadas a ferro, se ninguém quiser toma-los a serviço por 2 anos; em caso de reincidência, se têm mais de 18 anos, serão enforcados, se ninguém quiser toma-los a serviço por 2 anos; na terceira vez, serão enforcados, sem mercê, como traidores.” (Marx, O Capital, p. 852-853)
Infelizmente, essas práticas contra as pessoas quase são plenamente retomadas no Brasil em pleno século XXI, quando, em nome de uma pretensa justiça, moradores de rua e outros indivíduos são torturados, amarrados em postes e submetidos a várias formas de humilhação. O pior, nestes casos, é que tais práticas nem são implementadas diretamente pelos agentes do Estado e nem possuem respaldo legal.
Barbárie? Seria importante verificar a origem de todo o processo e perceber o que pode acontecer quando se cria uma sociedade baseada no “elogio ao trabalhador” e o trabalho desaparece com a modernização e robotização da produção capitalista.
(*) “A raiz de todo mal.”
(**)www.dicio.com.br/
Na Grécia Antiga, havia o elogio ao ócio. O conceito de democracia foi criado neste contexto.
A soberba pode ser definida como “sobreposição de algo que se encontra em lugar inferior; elevação.”** Trata-se, basicamente, do ponto de vista social, daquele tipo de orgulho que faz o indivíduo acreditar que ele seria superior aos outros.
“Na Idade Média, o grande pecado, radix malorum omnium,* foi a soberba.” (Foucault, História da loucura, p. 72)
No século XVII, a preguiça assumira o lugar da soberba.
Numa sociedade burguesa e no seu modo de produção, o maior crime seria o ócio. É inventado, com objetivos econômicos associados à exploração da maioria, o elogio do trabalho. Ser trabalhador significaria ser correto tanto para o capitalismo como para uma leitura do cristianismo.
Neste contexto, o louco “atravessa por conta própria as fronteiras da ordem burguesa, alienando-se fora dos limites sacros de sua ética.” (História da loucura, p. 73) O louco passa, assim, a ser visto como um marginal, que precisaria ser excluído do convívio social através da internação.
Nem sempre o louco foi tratado desta maneira:
“Até a Renascença, a sensibilidade à loucura estava ligada à presença de transcendências imaginárias. A partir da era clássica e pela primeira vez, a loucura é percebida como uma condenação ética da ociosidade e numa imanência social garantida pela comunidade do trabalho.” (História da loucura, p. 73)
Esse mundo industrial do excesso do trabalho manual fez sentido para a burguesia até o século XIX. Com a última revolução tecnológica, a invenção do computador pessoal e da internet, a robotização da produção e a demissão em massa de operários, a ideologia do trabalho passou a ser problematizada.
Não existem empregos para todos. As profissões desaparecem na medida em que o computador ocupa o lugar do trabalhador na produção.
O que fazer com uma massa cada vez maior de pessoas sem trabalho?
A resposta certamente não seria voltar ao século XV quando era utilizada uma “legislação sanguinária contra a vadiagem.” (Marx, O Capital, Livro 1, Volume 2, p. 851) Um exemplo deste tipo de lei pode ser dado em 1572 na Inglaterra:
“Mendigos sem licença e com mais de 14 anos serão flagelados severamente e terão suas orelhas marcadas a ferro, se ninguém quiser toma-los a serviço por 2 anos; em caso de reincidência, se têm mais de 18 anos, serão enforcados, se ninguém quiser toma-los a serviço por 2 anos; na terceira vez, serão enforcados, sem mercê, como traidores.” (Marx, O Capital, p. 852-853)
Infelizmente, essas práticas contra as pessoas quase são plenamente retomadas no Brasil em pleno século XXI, quando, em nome de uma pretensa justiça, moradores de rua e outros indivíduos são torturados, amarrados em postes e submetidos a várias formas de humilhação. O pior, nestes casos, é que tais práticas nem são implementadas diretamente pelos agentes do Estado e nem possuem respaldo legal.
Barbárie? Seria importante verificar a origem de todo o processo e perceber o que pode acontecer quando se cria uma sociedade baseada no “elogio ao trabalhador” e o trabalho desaparece com a modernização e robotização da produção capitalista.
(*) “A raiz de todo mal.”
(**)www.dicio.com.br/