ÓCIO
A redução das horas de trabalho proporcionada pela revolução tecnológica dos computadores, desde a década de 1970, transformou o mundo. Domenico de Masi acreditou que isso possibilitaria o "ócio criativo" e a melhoria da qualidade de vida. Foi otimista demais.
Viviane Forrester, em "L'Horreur Économique" e "La dictature de profit" (Editora Fayard), acertou mais ao criticar as grandes corporações e seu "regime político ultraliberal disfarçado ultimamente no termo 'globalização'."
Para produzir algo, não seriam necessárias mais tantas horas de trabalho. No entanto, os empresários optaram pelas demissões dos trabalhadores e seu próprio fortalecimento ideológico, pressionando o Estado no sentido de cortar os benefícios sociais. Isso tornou-se um padrão mundial.
Em meio aos novos acontecimentos, aquilo que era privilégio dos professores universitários dos países ricos - o período sabático - tornou-se uma opção aos executivos de uma maneira geral. O livro "Sabático - um tempo para crescer" de Herbert Steinberg (Editora Infinito), apesar de ser descritivo e reforçar dogmas corporativos, teve o mérito de tentar trazer o tema para o debate no Brasil, afinal, em 2000 - ano da publicação do livro - assim como hoje, poucas pessoas sabem o que seria sabático.
Steinberg trata esse período como uma escolha pessoal e uma possibilidade de se voltar renovado para o mercado produtivo, o que interessaria também às empresas. Ele apresenta a sua experiência e outros relatos, indicando ainda, com o apoio de uma bibliografia sobre o tema, alternativas para quem deseja "sair das (...) zonas de conforto" (p. 105) e arriscar viver um sabático. Ele afirma ainda que isso não seria apenas para pessoas de meia-idade, o que lembra, aliás, a tal "mid-life crisis" que os homens, em geral, enfrentam e tentam resolver com seus carros vermelhos e namoros com garotas bem jovens.
Contudo, o problema é mais complexo e certamente não fica restrito aos que estão na crise da meia-idade. Trata-se de saber o que você faz da sua vida? O comum é fugir da autocrítica com pretextos como consumismo, excesso de trabalho, religião, drogas, bebidas, sexo, entre outras coisas. Usar o cotidiano como fuga - basta, por exemplo, ver a importância que a TV Globo dá aos horários de seus programas, sobretudo as novelas - seria uma espécie de traição do ser (Heidegger). O ser humano abandona a capacidade de refletir sobre a sua existência e sobre o mundo em que vive. Troca isso pela chamada "zona de conforto", algo que seria frágil e arriscado numa sociedade cada mais mais competitiva e tecnológica.
Em resumo, o indivíduo "foge" da vida. Não arrisca. Sente medo do que está por vir. Recusa ser sujeito de suas próprias mudanças. Recusa assumir o seu verdadeiro ser e suas atitudes. Acredita nas fantasias de "gente grande", como poder, religião e dinheiro.
A redução das horas de trabalho proporcionada pela revolução tecnológica dos computadores, desde a década de 1970, transformou o mundo. Domenico de Masi acreditou que isso possibilitaria o "ócio criativo" e a melhoria da qualidade de vida. Foi otimista demais.
Viviane Forrester, em "L'Horreur Économique" e "La dictature de profit" (Editora Fayard), acertou mais ao criticar as grandes corporações e seu "regime político ultraliberal disfarçado ultimamente no termo 'globalização'."
Para produzir algo, não seriam necessárias mais tantas horas de trabalho. No entanto, os empresários optaram pelas demissões dos trabalhadores e seu próprio fortalecimento ideológico, pressionando o Estado no sentido de cortar os benefícios sociais. Isso tornou-se um padrão mundial.
Em meio aos novos acontecimentos, aquilo que era privilégio dos professores universitários dos países ricos - o período sabático - tornou-se uma opção aos executivos de uma maneira geral. O livro "Sabático - um tempo para crescer" de Herbert Steinberg (Editora Infinito), apesar de ser descritivo e reforçar dogmas corporativos, teve o mérito de tentar trazer o tema para o debate no Brasil, afinal, em 2000 - ano da publicação do livro - assim como hoje, poucas pessoas sabem o que seria sabático.
Steinberg trata esse período como uma escolha pessoal e uma possibilidade de se voltar renovado para o mercado produtivo, o que interessaria também às empresas. Ele apresenta a sua experiência e outros relatos, indicando ainda, com o apoio de uma bibliografia sobre o tema, alternativas para quem deseja "sair das (...) zonas de conforto" (p. 105) e arriscar viver um sabático. Ele afirma ainda que isso não seria apenas para pessoas de meia-idade, o que lembra, aliás, a tal "mid-life crisis" que os homens, em geral, enfrentam e tentam resolver com seus carros vermelhos e namoros com garotas bem jovens.
Contudo, o problema é mais complexo e certamente não fica restrito aos que estão na crise da meia-idade. Trata-se de saber o que você faz da sua vida? O comum é fugir da autocrítica com pretextos como consumismo, excesso de trabalho, religião, drogas, bebidas, sexo, entre outras coisas. Usar o cotidiano como fuga - basta, por exemplo, ver a importância que a TV Globo dá aos horários de seus programas, sobretudo as novelas - seria uma espécie de traição do ser (Heidegger). O ser humano abandona a capacidade de refletir sobre a sua existência e sobre o mundo em que vive. Troca isso pela chamada "zona de conforto", algo que seria frágil e arriscado numa sociedade cada mais mais competitiva e tecnológica.
Em resumo, o indivíduo "foge" da vida. Não arrisca. Sente medo do que está por vir. Recusa ser sujeito de suas próprias mudanças. Recusa assumir o seu verdadeiro ser e suas atitudes. Acredita nas fantasias de "gente grande", como poder, religião e dinheiro.