Tradição mantém Minas próxima do poder *
Minas Gerais sempre teve muito próxima do poder. Como exemplos, basta citar acontecimentos recentes* da história brasileira, como as circunstâncias que levaram Itamar Franco à presidência da República, o movimento que acabou elegendo Tancredo Neves – via colégio eleitoral – e instalando a chamada Nova República, ou mesmo as articulações do então governador mineiro Magalhães Pinto no processo que culminou com o golpe de 1964. Isto sem falar na atuação dos vice-presidentes mineiros, como Aureliano Chaves – no governo do general João Batista Figueiredo – e Pedro Aleixo – no governo de Costa e Silva -, sendo, inclusive, que esse último, com um presidente doente e imobilizado, foi impedido de assumir a presidência em 1969, como dizia a Constituição, por que os militares tinham sérias desconfianças a seu respeito, sobretudo a partir do momento em que ele recusou a apoiar a promulgação do AI-5 em 1968. (1)
Esta “vocação” de Minas Gerais pelo poder, de fato, é sempre lembrada e resgatada nos discursos políticos mineiros. Na verdade, eles tentam colocar esse Estado na vanguarda dos acontecimentos do País, sobretudo baseando-se na tradição. Assim, o que parece uma contradição – vanguarda (o novo) e tradição (o velho) – torna-se, na prática política mineira, um complemento, ou seja, “Minas torna-se vanguarda para garantir os seus ideais tradicionais.”
Lembremos o governo de Magalhães Pinto. Ele foi eleito governador do Estado em 1960, pelo partido da União Democrática Nacional (UDN). A atuação de Magalhães Pinto enquanto governador foi marcante, sobretudo no cenário da política nacional. Com a renúncia de Jânio Quadros em 15 de agosto de 1961, Magalhães Pinto passou a ser um dos principais articuladores da oposição a João Goulart e às reformas populares.
Uma consequência destas articulações foi o Manifesto dos Governadores, no qual “os dirigentes estaduais assumiam o compromisso de ‘não fugir à nossa responsabilidade para poupar o Brasil de uma convulsão’. Magalhães Pinto, o primeiro signatário declararia posteriormente que o manifesto era já a primeira peça do dispositivo de vigilância e resistência que Minas passaria a montar, cuidadosamente, para deter os desvios do governo federal.”(2)
De fato, Magalhães Pinto foi um dos maiores críticos do governo Goulart, o que o levou, aliás, a conspirar contra o governo federal, organizando em Minas Gerais uma resistência, que acabaria levando ao golpe de 1964.
Analisando esta problemática, Magalhães Pinto afirmava que, na realidade, houve dois movimentos em 1964. Primeiro, foi o de Minas Gerais, “que era um movimento ingênuo, patriota, que queria apenas pôr ordem no País, sem desejar nada de pessoal...”(3) Depois, veio o outro movimento, este sim predominantemente militar, com base no Rio de Janeiro, que foi o grupo que tomou o poder após o golpe.
Heloísa M. M. Starling discorda da análise do ex-governador e afirma que “a conspiração político-militar em Minas nada tinha de ingênua e tampouco era uma ‘patriotada’. Na verdade, processava-se aqui, em conexão direta com o núcleo dirigente representado pelo eixo Rio/São Paulo, um golpe político-estratégico dirigido ao centro de equilíbrio do regime nacional-populista. Para tanto, as classes dominantes, sob a égide do setor multinacional- associado, empreenderam uma campanha ideológica e político-militar em diversas frentes, atuando tanto em nível do Estado quanto da sociedade civil, com vista à ocupação do Estado, para daí procederem ao projeto de reordenação capitalista, ambicionado pelo setor multinacional-associado.”(4)
O golpe de 64 foi, portanto, resultado de um amplo movimento de oposição a João Goulart e, ao mesmo tempo, foi também a implantação definitiva de um modelo de crescimento – que havia começado no governo Juscelino Kubitschek – que favorecia o capital multinacional. (5)
Magalhães Pinto, apesar de ter sido um dos principais articuladores do movimento de 1964, não conseguiu eleger o seu sucessor – Roberto Rezende, secretário da Agricultura de seu governo. As eleições para governador de Minas Gerais foram vencidas por Israel Pinheiro em Minas, antigo membro do PSD. Neste momento, houve resistência nos círculos militares à posse de Israel Pinheiro em Minas e de Negrão Lima no Rio, pois tratavam-se de candidatos de oposição.
A crise foi contornada com a atuação de Golbery do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), que achava que “as derrotas dos situacionistas Carlos Lacerda e Magalhães Pinto eram mais vantajosas para a estabilidade do regime militar instaurado em 1964 do que o possível impedimento das eleições de Israel e Negrão.” (6)
Israel Pinheiro governou de 1966 a 1971, aderindo ao grupo que apoiava Castelo Branco e os governos militares. Foi o principal articulador na organização da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) em Minas, mas também não conseguiu eleger seu sucessor, porque o Ato Institucional nº 5 mudara as leis para eleição dos governadores.
Assim, em 1971, foi eleito indiretamente (pela Assembléia Legislativa) o ex-udenista Rondon Pacheco, que ficou no poder até 1975. aqui vale lembrar as circunstâncias que levaram à escolha de um representante triangulino para o Palácio da Liberdade. De fato, a partir de 1967, a campanha separatista do Triângulo viveu um dos seus principais momentos, com a criação da UDET – União para o Desenvolvimento e Emancipação do Triângulo – e a realização de congressos na região. Isso levou o jornal Diário de São Paulo a afirmar que
“somente o ministro Rondon Pacheco, com o prestígio político que desfruta na zona em rebelião, poderia, se fosse candidato em 1970, a governador de Estado, conter o ímpeto emancipacionista dos triangulinos.” (7)
As articulações políticas, neste sentido, foram feitas, e é inegável que o movimento separatista, muito forte nesta época, influenciou na escolha de Rondon Pacheco para governador do Estado.
Contudo, “durante seu governo, Rondon Pacheco foi criticado por diversos políticos mineiros, que o acusaram de fazer uma administração calcada numa perspectiva acentuadamente técnica em detrimento das relações políticas tradicionais no Estado.” (8) Uma explicação para esta postura talvez seja o fato de Rondon Pacheco vir de uma região onde o apelo à mineiridade (e sua tradições) não era um eixo fundamental.
Isso ocorria mesmo levando em consideração que Rondon Pacheco não era de forma alguma um separatista convicto. Como exemplo, podemos citar o debate que travou no Congresso com o deputado uberabense Mário Palmério – esse, sim, favorável a campanha pela emancipação do Triângulo -, quando ele, Rondon Pacheco, defendeu “nossos vínculos ao patrimônio histórico de Minas, (...) [resgatando] uma bandeira – a da maior integração a Minas Gerais.”(9)
Rondon Pacheco foi governador até 1975. Neste ano, tomou posse Aureliano Chaves, que governou Minas Gerais até 1978. Politicamente, procurou unir as facções diferentes da Arena em Minas Gerais e, em nível nacional, apoio o presidente Geisel na crise político-militar de 1977, quando o ministro do Exército, general Silvio Frota, opondo-se ao presidente, tentou articular um grupo de generais que o levasse à presidência da República. Em 1978, a Arena lançou a candidatura do general João Batista de Figueiredo para a presidência e de Aureliano Chaves para vice. Então, assumiu o vice-governador Ozanan Coelho, que esteve à frente do governo mineiro de julho de 1978 a março de 1979.
Em 1979 foi a vez de Francelino Pereira assumir o posto de governador do Estado. Durante o seu governo ele teve que enfrentar várias greves, sendo que, num período de 14 dias, cerca de 150 mil trabalhadores chegaram a paralisar suas atividades. Na verdade, os movimentos grevistas ocorreram em todo o país, sobretudo influenciados pela força dos trabalhadores da região do ABC paulista e suas greves vitoriosas a partir de 1978. No entanto, em Minas Gerais, estas greves criaram uma série crise política, pois o governador era acusado de incompetência administrativa, sendo, inclusive, cogitada, na época, a possibilidade de intervenção em Minas. Tal fato não ocorreu, e em novembro de 1979, com o fim do bipartidarismo no País, Francelino Pereira aderiu ao PDS, partido do governo. Ele não conseguiu fazer seu sucessor, Eliseu Rezende – já em eleições diretas -, porque ele foi derrotado pelo candidato da oposição, Tancredo Neves, em 1982. (10)
Tancredo governou Minas em 1983 e 1984, deixando o governo estadual para concorrer à presidência da República em 1985. Tancredo Neves e Ulysses Guimarães lideraram a oposição num movimento pró-diretas e depois no colégio eleitoral, terminando por vencer o partido do governo federal e eleger Neves enquanto presidente no Brasil. A eleição de um presidente civil representou, no discurso do PMDB, o marco de uma nova era, com a chamada Nova República. Em outras palavras, mais uma vez Minas chegava ao poder, mudando, sobretudo politicamente, os destinos do País.
(*) Esse texto foi escrito em 1993. Foi publicado originalmente em: Correio do Triângulo, 13/06/1993, p. 6.
(1) SKIDMORE, Thomas. Brasil de Castelo Branco a Tancredo, 1964-1985. Trad. de Mario M. Silva. 3 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989, p. 194.
(2) Fundação Getúlio Vargas, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. (FGV/CPDOC) Dicionário histórico bibliográfico: 1930-1983. Coordenação de Israel Beloch e Alzira Alves de Abreu. Rio de Janeiro. Ed. Forense Universitária: FGV/CPDOC: FINEP, 1984, vol. 4, p. 2734.
(3) TENDLER, Silvio e Dias, Maurício. Jango. Porto Alegre, L & PM. 1984. p. 80. citado em STARLING, Heloisa M. M. Os senhores das Gerais: os novos inconfidentes e o golpe de 1964, 5. ed., Petrópolis, Vozes, 1986, p. 312.
(4) STARLING, Heloisa M. M. Op. cit. p. 312.
(5) Para uma análise mais detalhada sobre este modelo de crescimento: cf, por exemplo, AFONSO, Carlos A. e Souza, Herbert. O Estado e o Desenvolvimento Capitalista no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977? e EVANS, Peter. A Tríplice Aliança: as multinacionais, as estatais e o capital nacional no desenvolvimento dependente brasileiro. Trad. de Waltensir Dutra. 2. ed. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1982.
(6) FGV/PCDOC. Op. cit. vol. 4. p. 2734.
(7) CANÊGO, Gregoriano. Banco & Investimentos. Diário de São Paulo. 18/10/67: citado em: Emancipação hoje é irrefreável. Correio de Uberlândia. 24-25/10/67. p. 1.
(8) FGV/CPDOC. Op. cit. vol. 4, p. 2734.
(9) Sobre o Separatismo do Triângulo Mineiro. Correio de Uberlândia. 05/07/51, p. 3.
.(10) Ver FGV/DOC. Op. cit. vol. 3, p. 2684.
Minas Gerais sempre teve muito próxima do poder. Como exemplos, basta citar acontecimentos recentes* da história brasileira, como as circunstâncias que levaram Itamar Franco à presidência da República, o movimento que acabou elegendo Tancredo Neves – via colégio eleitoral – e instalando a chamada Nova República, ou mesmo as articulações do então governador mineiro Magalhães Pinto no processo que culminou com o golpe de 1964. Isto sem falar na atuação dos vice-presidentes mineiros, como Aureliano Chaves – no governo do general João Batista Figueiredo – e Pedro Aleixo – no governo de Costa e Silva -, sendo, inclusive, que esse último, com um presidente doente e imobilizado, foi impedido de assumir a presidência em 1969, como dizia a Constituição, por que os militares tinham sérias desconfianças a seu respeito, sobretudo a partir do momento em que ele recusou a apoiar a promulgação do AI-5 em 1968. (1)
Esta “vocação” de Minas Gerais pelo poder, de fato, é sempre lembrada e resgatada nos discursos políticos mineiros. Na verdade, eles tentam colocar esse Estado na vanguarda dos acontecimentos do País, sobretudo baseando-se na tradição. Assim, o que parece uma contradição – vanguarda (o novo) e tradição (o velho) – torna-se, na prática política mineira, um complemento, ou seja, “Minas torna-se vanguarda para garantir os seus ideais tradicionais.”
Lembremos o governo de Magalhães Pinto. Ele foi eleito governador do Estado em 1960, pelo partido da União Democrática Nacional (UDN). A atuação de Magalhães Pinto enquanto governador foi marcante, sobretudo no cenário da política nacional. Com a renúncia de Jânio Quadros em 15 de agosto de 1961, Magalhães Pinto passou a ser um dos principais articuladores da oposição a João Goulart e às reformas populares.
Uma consequência destas articulações foi o Manifesto dos Governadores, no qual “os dirigentes estaduais assumiam o compromisso de ‘não fugir à nossa responsabilidade para poupar o Brasil de uma convulsão’. Magalhães Pinto, o primeiro signatário declararia posteriormente que o manifesto era já a primeira peça do dispositivo de vigilância e resistência que Minas passaria a montar, cuidadosamente, para deter os desvios do governo federal.”(2)
De fato, Magalhães Pinto foi um dos maiores críticos do governo Goulart, o que o levou, aliás, a conspirar contra o governo federal, organizando em Minas Gerais uma resistência, que acabaria levando ao golpe de 1964.
Analisando esta problemática, Magalhães Pinto afirmava que, na realidade, houve dois movimentos em 1964. Primeiro, foi o de Minas Gerais, “que era um movimento ingênuo, patriota, que queria apenas pôr ordem no País, sem desejar nada de pessoal...”(3) Depois, veio o outro movimento, este sim predominantemente militar, com base no Rio de Janeiro, que foi o grupo que tomou o poder após o golpe.
Heloísa M. M. Starling discorda da análise do ex-governador e afirma que “a conspiração político-militar em Minas nada tinha de ingênua e tampouco era uma ‘patriotada’. Na verdade, processava-se aqui, em conexão direta com o núcleo dirigente representado pelo eixo Rio/São Paulo, um golpe político-estratégico dirigido ao centro de equilíbrio do regime nacional-populista. Para tanto, as classes dominantes, sob a égide do setor multinacional- associado, empreenderam uma campanha ideológica e político-militar em diversas frentes, atuando tanto em nível do Estado quanto da sociedade civil, com vista à ocupação do Estado, para daí procederem ao projeto de reordenação capitalista, ambicionado pelo setor multinacional-associado.”(4)
O golpe de 64 foi, portanto, resultado de um amplo movimento de oposição a João Goulart e, ao mesmo tempo, foi também a implantação definitiva de um modelo de crescimento – que havia começado no governo Juscelino Kubitschek – que favorecia o capital multinacional. (5)
Magalhães Pinto, apesar de ter sido um dos principais articuladores do movimento de 1964, não conseguiu eleger o seu sucessor – Roberto Rezende, secretário da Agricultura de seu governo. As eleições para governador de Minas Gerais foram vencidas por Israel Pinheiro em Minas, antigo membro do PSD. Neste momento, houve resistência nos círculos militares à posse de Israel Pinheiro em Minas e de Negrão Lima no Rio, pois tratavam-se de candidatos de oposição.
A crise foi contornada com a atuação de Golbery do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), que achava que “as derrotas dos situacionistas Carlos Lacerda e Magalhães Pinto eram mais vantajosas para a estabilidade do regime militar instaurado em 1964 do que o possível impedimento das eleições de Israel e Negrão.” (6)
Israel Pinheiro governou de 1966 a 1971, aderindo ao grupo que apoiava Castelo Branco e os governos militares. Foi o principal articulador na organização da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) em Minas, mas também não conseguiu eleger seu sucessor, porque o Ato Institucional nº 5 mudara as leis para eleição dos governadores.
Assim, em 1971, foi eleito indiretamente (pela Assembléia Legislativa) o ex-udenista Rondon Pacheco, que ficou no poder até 1975. aqui vale lembrar as circunstâncias que levaram à escolha de um representante triangulino para o Palácio da Liberdade. De fato, a partir de 1967, a campanha separatista do Triângulo viveu um dos seus principais momentos, com a criação da UDET – União para o Desenvolvimento e Emancipação do Triângulo – e a realização de congressos na região. Isso levou o jornal Diário de São Paulo a afirmar que
“somente o ministro Rondon Pacheco, com o prestígio político que desfruta na zona em rebelião, poderia, se fosse candidato em 1970, a governador de Estado, conter o ímpeto emancipacionista dos triangulinos.” (7)
As articulações políticas, neste sentido, foram feitas, e é inegável que o movimento separatista, muito forte nesta época, influenciou na escolha de Rondon Pacheco para governador do Estado.
Contudo, “durante seu governo, Rondon Pacheco foi criticado por diversos políticos mineiros, que o acusaram de fazer uma administração calcada numa perspectiva acentuadamente técnica em detrimento das relações políticas tradicionais no Estado.” (8) Uma explicação para esta postura talvez seja o fato de Rondon Pacheco vir de uma região onde o apelo à mineiridade (e sua tradições) não era um eixo fundamental.
Isso ocorria mesmo levando em consideração que Rondon Pacheco não era de forma alguma um separatista convicto. Como exemplo, podemos citar o debate que travou no Congresso com o deputado uberabense Mário Palmério – esse, sim, favorável a campanha pela emancipação do Triângulo -, quando ele, Rondon Pacheco, defendeu “nossos vínculos ao patrimônio histórico de Minas, (...) [resgatando] uma bandeira – a da maior integração a Minas Gerais.”(9)
Rondon Pacheco foi governador até 1975. Neste ano, tomou posse Aureliano Chaves, que governou Minas Gerais até 1978. Politicamente, procurou unir as facções diferentes da Arena em Minas Gerais e, em nível nacional, apoio o presidente Geisel na crise político-militar de 1977, quando o ministro do Exército, general Silvio Frota, opondo-se ao presidente, tentou articular um grupo de generais que o levasse à presidência da República. Em 1978, a Arena lançou a candidatura do general João Batista de Figueiredo para a presidência e de Aureliano Chaves para vice. Então, assumiu o vice-governador Ozanan Coelho, que esteve à frente do governo mineiro de julho de 1978 a março de 1979.
Em 1979 foi a vez de Francelino Pereira assumir o posto de governador do Estado. Durante o seu governo ele teve que enfrentar várias greves, sendo que, num período de 14 dias, cerca de 150 mil trabalhadores chegaram a paralisar suas atividades. Na verdade, os movimentos grevistas ocorreram em todo o país, sobretudo influenciados pela força dos trabalhadores da região do ABC paulista e suas greves vitoriosas a partir de 1978. No entanto, em Minas Gerais, estas greves criaram uma série crise política, pois o governador era acusado de incompetência administrativa, sendo, inclusive, cogitada, na época, a possibilidade de intervenção em Minas. Tal fato não ocorreu, e em novembro de 1979, com o fim do bipartidarismo no País, Francelino Pereira aderiu ao PDS, partido do governo. Ele não conseguiu fazer seu sucessor, Eliseu Rezende – já em eleições diretas -, porque ele foi derrotado pelo candidato da oposição, Tancredo Neves, em 1982. (10)
Tancredo governou Minas em 1983 e 1984, deixando o governo estadual para concorrer à presidência da República em 1985. Tancredo Neves e Ulysses Guimarães lideraram a oposição num movimento pró-diretas e depois no colégio eleitoral, terminando por vencer o partido do governo federal e eleger Neves enquanto presidente no Brasil. A eleição de um presidente civil representou, no discurso do PMDB, o marco de uma nova era, com a chamada Nova República. Em outras palavras, mais uma vez Minas chegava ao poder, mudando, sobretudo politicamente, os destinos do País.
(*) Esse texto foi escrito em 1993. Foi publicado originalmente em: Correio do Triângulo, 13/06/1993, p. 6.
(1) SKIDMORE, Thomas. Brasil de Castelo Branco a Tancredo, 1964-1985. Trad. de Mario M. Silva. 3 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989, p. 194.
(2) Fundação Getúlio Vargas, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. (FGV/CPDOC) Dicionário histórico bibliográfico: 1930-1983. Coordenação de Israel Beloch e Alzira Alves de Abreu. Rio de Janeiro. Ed. Forense Universitária: FGV/CPDOC: FINEP, 1984, vol. 4, p. 2734.
(3) TENDLER, Silvio e Dias, Maurício. Jango. Porto Alegre, L & PM. 1984. p. 80. citado em STARLING, Heloisa M. M. Os senhores das Gerais: os novos inconfidentes e o golpe de 1964, 5. ed., Petrópolis, Vozes, 1986, p. 312.
(4) STARLING, Heloisa M. M. Op. cit. p. 312.
(5) Para uma análise mais detalhada sobre este modelo de crescimento: cf, por exemplo, AFONSO, Carlos A. e Souza, Herbert. O Estado e o Desenvolvimento Capitalista no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977? e EVANS, Peter. A Tríplice Aliança: as multinacionais, as estatais e o capital nacional no desenvolvimento dependente brasileiro. Trad. de Waltensir Dutra. 2. ed. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1982.
(6) FGV/PCDOC. Op. cit. vol. 4. p. 2734.
(7) CANÊGO, Gregoriano. Banco & Investimentos. Diário de São Paulo. 18/10/67: citado em: Emancipação hoje é irrefreável. Correio de Uberlândia. 24-25/10/67. p. 1.
(8) FGV/CPDOC. Op. cit. vol. 4, p. 2734.
(9) Sobre o Separatismo do Triângulo Mineiro. Correio de Uberlândia. 05/07/51, p. 3.
.(10) Ver FGV/DOC. Op. cit. vol. 3, p. 2684.