“BLACK BLOC”, JUSTIÇAMENTO, REPRESSÃO E MEDO
Atualmente, alguns jornalistas, para tratar dos atos dos “justiceiros” que torturam e amarram os ladrões em postes, utilizam equivocadamente o termo “justiçamento” (ou, no mínimo, eles deveriam explicar melhor o conceito que usam).
O “justiçamento” era um termo utilizado pelos opositores (que optaram pela luta armada) da ditadura militar brasileira. Alguém era “justiçado” – assassinado pelos guerrilheiros – quando era avaliado que essa pessoa atrapalharia o processo revolucionário da esquerda. Essa pessoa poderia ser um funcionário do governo, um agente estrangeiro ou mesmo um empresário que financiava grupos militares clandestinos anticomunistas (ver exemplos no livro Combate nas Trevas de Jacob Gorender).
Essa prática, contudo, não era aprovada por todos os simpatizantes da esquerda nas décadas de 1960 e 1970.
Ao analisar o conceito de terrorismo após os ataques de 11 de setembro de 2001, Habermas defendia uma tese que seria o oposto do “justiçamento”:
“Nada justifica a atitude de ‘dar um desconto’ para o assassinato.” (Filosofia em Tempo de Terror, p. 46)
Diante da crise atual no Brasil, com a atuação violenta de grupos como o chamado “Black Blocs”, apareceram propostas no sentido de criar especificamente uma lei contra o terrorismo no país.
Algo que poderia ser considerado “natural” para muitos juristas esbarra no passado de muitos membros que ocupam ou ocuparam os mais altos cargos do governo federal.
As administrações petistas de Lula e de Dilma contaram, nos seus quadros administrativos, com muitos guerrilheiros contrários ao regime militar e que eram tratados, na época, exatamente como “terroristas”.
O ex-ministro José Dirceu, por exemplo, foi libertado da prisão na ditadura militar (com mais 14 militantes) somente quando fez parte de uma lista de presos políticos cuja libertação faria parte de um acordo para que fosse possível fazer o resgate do embaixador dos Estados Unidos (Charles Burke Ellbrick) que estava em poder dos comunistas. Uma foto destes presos políticos (inclusive com José Dirceu) encontra-se no anexo “Imagens e Personagens” do livro Combate nas Trevas de Gorender.
É fundamental considerar a diferença dos dois contextos políticos: existe, atualmente, uma democracia no país e, anteriormente (nas décadas de 1960 e 1970), existia uma ditadura, com repressão, tortura e censura.
De qualquer maneira, os exemplos históricos são importantes para não se repetir os erros. Para compreender a crise atual, vale recorrer novamente ao pensamento de Habermas:
“A desejada transformação de uma mentalidade acontece sobretudo pela melhoria das condições de vida, por um alívio sensível da opressão e do medo. A confiança também deve ser capaz de se desenvolver nas práticas comunicativas do cotidiano. Só então um esclarecimento poderá se estender à mídia, às escolas e aos lares.” (Filosofia em Tempo de Terror, p. 48)
Em outras palavras, a repressão, a ameaça e o medo só pioram uma crise. Não ajuda ainda incitar tumultos violentos e criar versões falsas sobre os fatos no sentido de desviar a atenção da população quanto aos reais problemas do cotidiano.
Em suma, não seria correto (nem bom para o Brasil) usar tais estratégias como forma de luta pelo poder.
Como foi citado o Black Bloc anteriormente, vale lembrar que trata-se de um grupo anarquista.* Foram utilizadas duas citações de Habermas no texto, portanto, seria adequado apresentar a sua visão sobre o anarquismo:
“(...) o terror global (...) carrega os traços anarquistas da revolta impotente dirigida contra um inimigo que não pode ser derrotado em qualquer sentido pragmático. O único efeito possível que ele pode exercer é chocar e alarmar o governo e a população.” (Filosofia em Tempo de Terror, p. 46)
Confundir as pessoas faria parte (também) das estratégias terroristas. Isso e mais o que foi dito por Habermas – “alarmar o governo e a população”- ajudam a explicar o momento que o país vive atualmente.
by profelipe
(*) De acordo com a “Wikipédia, a enciclopédia livre”:
“Black bloc (do inglês black, negro; bloc, agrupamento de pessoas para uma ação conjunta ou propósito comum, diferentemente de block: bloco sólido de matéria inerte) é o nome dado a uma tática de ação direta, de corte anarquista, empreendida por grupos de afinidade que se reúnem, mascarados e vestidos de preto, para protestar em manifestações de rua, utilizando-se da propaganda pela ação para desafiar o establishment e as forças da ordem. Black bloc é basicamente uma estrutura efêmera, informal, não hierárquica e descentralizada. Unidos, seus adeptos adquirem força suficiente para confrontar a polícia, bem como atacar e destruir propriedades privadas que representem a opressão gerada pelo capital.
As roupas e máscaras pretas - que dão nome à tática e visam garantir o anonimato dos indivíduos participantes, a igualdade entre eles e caracterizando-os, em conjunto, como um único e imenso "bloco".
Os black blocs, à diferença de outros grupos anticapitalistas, realizam ataques diretos à propriedade privada, como forma de chamar a atenção para sua oposição ao que consideram símbolos do capitalismo - as corporações multinacionais e os governos que as apoiam. Um exemplo desse tipo de ação foi a destruição das fachadas de lojas e escritórios do McDonald's, da Starbucks, da Fidelity Investments e outras instalações de grandes empresas no centro de Seattle, em 1999, durante as manifestações contra a conferência de ministros de países integrantes da Organização Mundial do Comércio (OMC).”
Atualmente, alguns jornalistas, para tratar dos atos dos “justiceiros” que torturam e amarram os ladrões em postes, utilizam equivocadamente o termo “justiçamento” (ou, no mínimo, eles deveriam explicar melhor o conceito que usam).
O “justiçamento” era um termo utilizado pelos opositores (que optaram pela luta armada) da ditadura militar brasileira. Alguém era “justiçado” – assassinado pelos guerrilheiros – quando era avaliado que essa pessoa atrapalharia o processo revolucionário da esquerda. Essa pessoa poderia ser um funcionário do governo, um agente estrangeiro ou mesmo um empresário que financiava grupos militares clandestinos anticomunistas (ver exemplos no livro Combate nas Trevas de Jacob Gorender).
Essa prática, contudo, não era aprovada por todos os simpatizantes da esquerda nas décadas de 1960 e 1970.
Ao analisar o conceito de terrorismo após os ataques de 11 de setembro de 2001, Habermas defendia uma tese que seria o oposto do “justiçamento”:
“Nada justifica a atitude de ‘dar um desconto’ para o assassinato.” (Filosofia em Tempo de Terror, p. 46)
Diante da crise atual no Brasil, com a atuação violenta de grupos como o chamado “Black Blocs”, apareceram propostas no sentido de criar especificamente uma lei contra o terrorismo no país.
Algo que poderia ser considerado “natural” para muitos juristas esbarra no passado de muitos membros que ocupam ou ocuparam os mais altos cargos do governo federal.
As administrações petistas de Lula e de Dilma contaram, nos seus quadros administrativos, com muitos guerrilheiros contrários ao regime militar e que eram tratados, na época, exatamente como “terroristas”.
O ex-ministro José Dirceu, por exemplo, foi libertado da prisão na ditadura militar (com mais 14 militantes) somente quando fez parte de uma lista de presos políticos cuja libertação faria parte de um acordo para que fosse possível fazer o resgate do embaixador dos Estados Unidos (Charles Burke Ellbrick) que estava em poder dos comunistas. Uma foto destes presos políticos (inclusive com José Dirceu) encontra-se no anexo “Imagens e Personagens” do livro Combate nas Trevas de Gorender.
É fundamental considerar a diferença dos dois contextos políticos: existe, atualmente, uma democracia no país e, anteriormente (nas décadas de 1960 e 1970), existia uma ditadura, com repressão, tortura e censura.
De qualquer maneira, os exemplos históricos são importantes para não se repetir os erros. Para compreender a crise atual, vale recorrer novamente ao pensamento de Habermas:
“A desejada transformação de uma mentalidade acontece sobretudo pela melhoria das condições de vida, por um alívio sensível da opressão e do medo. A confiança também deve ser capaz de se desenvolver nas práticas comunicativas do cotidiano. Só então um esclarecimento poderá se estender à mídia, às escolas e aos lares.” (Filosofia em Tempo de Terror, p. 48)
Em outras palavras, a repressão, a ameaça e o medo só pioram uma crise. Não ajuda ainda incitar tumultos violentos e criar versões falsas sobre os fatos no sentido de desviar a atenção da população quanto aos reais problemas do cotidiano.
Em suma, não seria correto (nem bom para o Brasil) usar tais estratégias como forma de luta pelo poder.
Como foi citado o Black Bloc anteriormente, vale lembrar que trata-se de um grupo anarquista.* Foram utilizadas duas citações de Habermas no texto, portanto, seria adequado apresentar a sua visão sobre o anarquismo:
“(...) o terror global (...) carrega os traços anarquistas da revolta impotente dirigida contra um inimigo que não pode ser derrotado em qualquer sentido pragmático. O único efeito possível que ele pode exercer é chocar e alarmar o governo e a população.” (Filosofia em Tempo de Terror, p. 46)
Confundir as pessoas faria parte (também) das estratégias terroristas. Isso e mais o que foi dito por Habermas – “alarmar o governo e a população”- ajudam a explicar o momento que o país vive atualmente.
by profelipe
(*) De acordo com a “Wikipédia, a enciclopédia livre”:
“Black bloc (do inglês black, negro; bloc, agrupamento de pessoas para uma ação conjunta ou propósito comum, diferentemente de block: bloco sólido de matéria inerte) é o nome dado a uma tática de ação direta, de corte anarquista, empreendida por grupos de afinidade que se reúnem, mascarados e vestidos de preto, para protestar em manifestações de rua, utilizando-se da propaganda pela ação para desafiar o establishment e as forças da ordem. Black bloc é basicamente uma estrutura efêmera, informal, não hierárquica e descentralizada. Unidos, seus adeptos adquirem força suficiente para confrontar a polícia, bem como atacar e destruir propriedades privadas que representem a opressão gerada pelo capital.
As roupas e máscaras pretas - que dão nome à tática e visam garantir o anonimato dos indivíduos participantes, a igualdade entre eles e caracterizando-os, em conjunto, como um único e imenso "bloco".
Os black blocs, à diferença de outros grupos anticapitalistas, realizam ataques diretos à propriedade privada, como forma de chamar a atenção para sua oposição ao que consideram símbolos do capitalismo - as corporações multinacionais e os governos que as apoiam. Um exemplo desse tipo de ação foi a destruição das fachadas de lojas e escritórios do McDonald's, da Starbucks, da Fidelity Investments e outras instalações de grandes empresas no centro de Seattle, em 1999, durante as manifestações contra a conferência de ministros de países integrantes da Organização Mundial do Comércio (OMC).”